Fazer, A Poesia .:. Jean Luc-Nancy

“Assim, a história da poesia é a história da renúncia persistente em deixar a poesia identificar-se com qualquer género ou modo poético – não, todavia, para inventar um outro mais preciso do que os outros, nem para dissolver na prosa como na verdade que lhes cabe, mas para determinar incessantemente uma outra, uma nova exactidão. Esta última é sempre de novo necessária, pois o infinito é actual um número infinito de vezes. A poesia é a práxis do eterno retorno do mesmo: a mesma dificuldade, a própria dificuldade.

Neste sentindo, a “poesia infinita” dos românticos é uma apresentação tão determinada quanto a cinzelagem de Mallarmé, o opus incertum de Pound, ou o ódio da Poesia de Bataille. O que não significa que todas estas apresentações sejam indiferentes, ou apenas figurações de uma idêntica não-figurável Poesia, e que, justamente por esse facto, seriam inconsistentes todos os combates de “géneros”, de “escolas” ou de “pensamentos” da poesia. Isso significa antes que não existem senão diferenças deste tipo: o acesso faz-se apenas, de cada vez, uma vez, e está sempre por refazer, não porque seria imperfeito, mas, pelo contrário, porque é, quando é (quando cede), de cada vez perfeito. Eterno retorno e partilha das vozes.”

Jean Luc-Nancy
Jean Luc-Nancy

(Jean Luc-Nancy; Livro: Resistência da Poesia. Tradução: Bruno Duarte. Edições Vendaval)

*

Acompanhe a nossa página: https://www.facebook.com/lendopoesia/

Deixe um comentário